terça-feira, 21 de abril de 2009

Definição de Cuidar

“Nós existimos em cuidado” Honoré

O que significa “Cuidar”? Para mim o significado deste conceito pode ser inteiramente ou parcialmente diferente do significado que o meu vizinho, que trabalha num banco, lhe poderá atribuir. Cuidar: para o padeiro, para o jurista, para o físico, para o médico, sociólogo, etc., que definições terá? Citando Hesbeen (2004):

“Para o filósofo, ‘cuidar’ significa procurar a sabedoria e a verdade; para o antropólogo significa observar o homem, bem como as instituições e as próprias técnicas nas diferentes sociedades, a fim de estabelecer os elos de significação; para o juiz significa encarnar a justiça; para o político significa cuidar da cidade; para o médico significa curar; para o homem de negócios significa produzir lucros; para o agricultor significa cultivar a terra e alimentar os homens; para o artesão e para os pedreiros significa fabricar objectos aptos a melhorar a vida.”


Todos estes indivíduos são, antes de tudo, pessoas que exercem uma profissão, profissão essa que “cuida” de todos nós. Se realizarmos de forma competente e humana cada uma das nossas profissões, estaremos a Cuidar da nossa sociedade. Antes de sermos profissionais somos pessoas e, como tal, cuidamos como pais, filhos, irmãos, amigos, etc. Antes de ser enfermeira, sou filha, irmã, colega, amiga, prima, tia, sobrinha, vizinha – e, ao desempenhar cada um destes papéis sociais, cuido daqueles que me rodeiam. Em suma: o Cuidar diz respeito a cada um de nós. A humanidade, para existir e se perpetuar, necessita de Cuidados. 

Concretamente, na minha área profissional este conceito pode ser definido das seguintes formas:

“Cuidar é, e será sempre indispensável, não apenas à vida dos indivíduos mas à perenidade de todo o grupo social. Esta função primordial, inerente à sobrevivência de todo o ser vivo, foi profundamente alterada entre os humanos à medida das grandes mutações tecnológicas, socioeconómicas e culturais que geram a explosão e a dissecação das práticas de cuidados numa imensidão de tarefas e actividades diversas, disputadas tanto por profissões como por ofícios.” Collière (1989)

“Cuidar significa dar especial atenção a uma pessoa que vive uma situação específica e isto na perspectiva de lhe prestar ajuda, de contribuir para o seu bem-estar, para a sua saúde.” Élisabeth Darras et al (2004) citando Hesbeen (1997)

“(…) os cuidados de Enfermagem são assim, compostos de múltiplas acções que são sobretudo, apesar do lugar tomado pelos gestos técnicos, uma imensidão de ‘pequenas coisas’ que dão a possibilidade de manifestar uma ‘grande atenção’ ao beneficiário de cuidados e aos seus familiares, ao longo das vinte e quatro horas do dia.(…) essas ‘pequenas coisas’ não se devem confundir com ‘pequenos actos’ (…) trata-se, isso sim, de todas essas ‘pequenas coisas’ da vida, aquelas que, para uma determinada pessoa, dão sentido à vida e são importantes.” Hesbeen (2000)

“Os cuidados de Enfermagem são a atenção particular prestada por um enfermeiro a uma pessoa e aos seus familiares – ou a um grupo de pessoas – com vista a ajudá-los na sua situação, utilizando, para concretizar essa ajuda, as competências e as qualidades que fazem deles profissionais de Enfermagem. Os cuidados de Enfermagem inscrevem-se assim numa acção interpessoal (…) consiste tanto em colocar uma perfusão como um proceder aos cuidados de higiene; em fazer um penso como em ajudar alguém a ir à casa de banho; em reconfortar familiares como em explicar a organização da hospitalização; em preparar a alta como em sentar-se à beira da cama para falar ou para ficar calado, para sorrir ou para tocar, ou muito simplesmente para estar ali; em preocupar-se com o autoclismo que verte como em explicar como executar certos cuidados a si próprio; em medir os sinais vitais como em jogar às cartas ou regular a televisão.” Hesbeen (2000)

“(…) os cuidados de enfermagem propõem-se participar activamente em tudo o que contribua para desenvolver o potencial de vida da pessoa inserida na sua rede familiar e social; tentar utilizar ao máximo tudo o que resta desse potencial de vida, quando se vê afectada ou diminuída pela doença ou por uma deficiência, seja qual for a variedade das origens e das formas que estes últimos possam revestir. (…) importa aqui procurar tudo o que possa ser desenvolvido, suscitar e estimular o desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e sociais para fortalecer o que existe ou o que resta de autonomia, discernir o que deve ser compensado, estimular e libertar as capacidades potenciais. (…) o conjunto de um processo de discernimento de necessidades de saúde indispensáveis à vida de alguém ou de um grupo; ou seja, uma interrogação, um diagnóstico, relativos às necessidades vitais, sejam de ordem biológica, afectiva, social e económica, assim como das inter-relações e das influências que se estabelecem entre elas; E a acção que se deve executar para lhe dar resposta. Esta acção pode-se realizar com outras pessoas, sejam profissionais ou não. ” Collière (2001)

“O cuidado como maneira atenta de tomar conta de alguém ou de qualquer coisa com vista à sua salvaguarda, ou seja, à sua manutenção sã e salva naquilo que ele é, com todas as suas qualidades e faculdades caso se trate de uma pessoa.” Honoré (2004)

“O cuidado é, então, característica da nossa existência. Revela-nos o sentido de uma vida possível, num projecto de vida. O sentimento fundamental neste cuidar, é a alegria que advém do prazer de viver, a partir do momento em que é reflectido e independente de qualquer objecto particular de forma a conduzir ao desenvolvimento de uma existência que se cumpre. A alegria presente no cuidar sem imposições materiais, transcende tanto o prazer como o sofrimento.” Élisabeth Darras et al (2004)


Carl Rogers (1971) diz que é a qualidade do encontro com o utente que constitui o factor determinante da eficácia dos cuidados. No mesmo sentido, Evelin Adam (1994) considera que os cuidados de Enfermagem deviam ser sempre prestados no quadro de uma relação de ajuda.

Através da minha pesquisa bibliográfica concluo que o cuidar em Enfermagem é fulcral e essencial. Enfermagem é cuidar do outro, um cuidar que tem em consideração o ser humano na sua totalidade bio-psico-socio-emocional. Inscreve-se numa relação interpessoal de ajuda e visa um desenvolvimento do potencial de vida da pessoa inserida na sua rede familiar. É, muitas vezes, dificilmente mensurável e frequentemente não é reconhecido pela sociedade e, noutras ocasiões, nem pelos próprios enfermeiros, que ainda acham que a essência do cuidar reside nos cuidados bio-médicos.

1 comentário:

Paty disse...

Cuidar...é tão vasto não é?! E no sítio onde ambas trabalhamos, no ambito da oncologia..de todas as experiências que tive, foi onde o conceito de cuidar me fez mais sentido mesmo..não tanto pelas definições teóricas..mas pelo sentimento de cuidar..pelo sentir que de tantas formas estamos a optimizar diversas dimensões da vida daquela pessoa...cuidar nao é apenas intervir para soluccionar uma queixa objectiva..física..cuidar vai mais além..com um sorriso..com um toque de carinho de compreensão...e esses momentos são de extrema riqueza pessoal e profissional...a profissão de enfermagem não é nada fácil e no presente debatemo-nos com imensas lutas para adquirir direitos e reconhecimento social...mas apesar de todas as dificuldades..ser enfermeiro é partilhar uma parte do nosso Ser com o outro...